Vale ou não logar para The Alters?
- Vai Logar Hoje?
- 11 de set.
- 3 min de leitura
11/09/2025 por Juliana Bolzan
Outro: pronome indefinido. Do latim alter.
Alter ego: personalidade alternativa, vida dupla, identidade secreta de super-heróis.
Jan Dolski, um simples construtor de meia idade e de frustrações integrais, se candidata à tripulação de uma missão espacial para deixar para trás a vida medíocre que arrastava. Mal sabia que em breve enfrentaria o pior de seus pesadelos: ele mesmo, ele mesmo, ele mesmo, (...) e ele mesmo. Só que não. É só um tanto dele mesmo, mas de ecos/egos diferentes. Confuso e assustador!
Alex Jordan, ator principal do jogo, não entrou nessa onda nebulosa e entregou uma atuação digna de prêmios. Em momento algum você se perde em quem é quem. Vi uma entrevista em que ele explica como pensou e interpretou cada alter e é de explodir a cabeça. Imagine se uma IA faria isso…
Quando o terceiro sol chegar.
A história do jogo mantém-se misteriosa e tensa do início ao fim. A missão espacial dá errado e Jan precisa se virar sozinho em um planeta hostil de um sistema estelar trinário. Há pouco tempo para entender o que aconteceu e quase nenhum conhecimento técnico e científico para encontrar uma solução. Há radiação em excesso e suprimentos em escassez. Não há ninguém para ajudar a executar um plano. The Alters é um jogo de gerenciamento de tempo, de recursos, de crises e até do quanto você quer explorar. Como se tudo isso não bastasse, você tem que administrar pessoas e seus humores. Sendo que essas pessoas são você. Jan consegue comunicação com a base, que o orienta a utilizar duas engenhocas da nave para criar versões de si mesmo a fim de agilizar a tentativa de voltar para casa. Não são clones exatos, mas Jans com outras vivências devido a escolhas diferentes em momentos específicos da vida do Jan primário. O famoso “e se eu tivesse feito isso ao invés daquilo?”.
O jogo não se limita a mostrar interessantíssimas escolhas anteriores de Jan, mas te obriga a tomar novas. Então temos aqui uma mistura de gêneros: The Alters é um RPG com gerenciamento. As escolhas são difíceis e na hora você percebe a consequência da decisão que tomou. Há RPGs que parecem que tanto fez, tanto faz. Já The Alters sempre me deixava a impressão de “puxa vida!” nesses momentos cruciais.
Nem Freud explica.
The Alters me deu uma crise existencial digna de Disco Elysium. Talvez não coincidentemente a 11 bit studios, desenvolvedora polonesa do jogo, seja de um país que igualmente esteve sob a influência da União Soviética como o estúdio ZA/UM da Estônia. Parece que há um jeito especial de transmitirem questões filosóficas. The Alters tem um tom sombrio e clama por sobrevivência e autoconhecimento. Já o clima do jogo estoniano exala depressão, desesperança e dominação. Algo como acontece no início de Frostpunk também da 11 bit studios. A metáfora do inverno russo deixando terra arrasada e o povo tendo que se reinventar é a mesma tônica nesses jogos. Que o diga Indika.
A história de The Alters é enxuta e com poucos personagens. Na prática, eles são muitos. Se você conseguir se colocar no lugar de Jan, experimentará uma imensidão de existências, alegrias, tristezas, solidões e afetos. Que escolhas da sua vida você teria feito diferente? Que conselho você se daria ou gostaria de receber? O quão bem você se conhece para liderar uma equipe feita de vocês? Quão sólidos são os seus princípios? Até que ponto vai a sua integridade? Qual versão você quer ser de você mesmo?
E aí, vale a pena logar para The Alters?
The Alters está disponível para PC, PS5 e Xbox, constando no catálogo do Game Pass. Tem localização em português e um alto fator replay decorrente das diferentes decisões que você pode tomar. Há uma DLC a caminho que me fará comprar o jogo na PSN, quando finalmente verei toda a sua beleza. Infelizmente a XCloud sempre me deixa na mão no quesito gráfico. Se você curte gerenciamento, questões éticas e morais e uma boa história sci-fi, The Alters é mandatório. Quatro logadas para um dos melhores jogos que terminei em 2025.
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